quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Editorial: A ocupação da ZPA 10 e o parque municipal

Ion de Andrade

As últimas semanas no bairro trouxeram como fato novo a ocupação, por pessoas da comunidade, do platô da ZPA 10, ao lado do Farol.
Poucas semanas antes discussões participativas no seio da mesma comunidade apontavam para o uso do espaço para um parque municipal, cuja materialização ampliará a qualidade de vida da própria comunidade. Como entender?
Quero enxergar a ocupação como algo que decorre de um desejo legítimo de obtenção de um teto, por pessoas sem casa. Essa ocupação, cuja legitimidade não pode ser questionada, ocorre numa Zona de Proteção Ambiental e tem poucas chances de dar certo.
O parque municipal, porém, assegura um uso de todos, e é adequado à condição de Zona de Proteção ambiental da área.
A comunidade de Mãe Luiza, noutro momento de sua história, também ocupou toda aregião que era, há 40 ou 50 anos atrás, uma mata, igual à das dunas. Naquela época, pessoas expulsas do interior pela seca e pela exclusão social se instalaram em Mãe Luiza, por não terem para onde ir. O que ocorreu na ZPA 10 tem algo a ver com a própria história do bairro, mas hoje o contexto legal é outro e a comunidade também mudou.
Se ocorrer a reintegração de posse, é muito importante que a integridade de todos seja respeitada.
Apesar de todo o turbilhão causado pela ocupação, quero crer que no cerne da questão existe uma compreensão de todo o bairro de que a área deva ser utilizada pela população, deva ter um uso comunitário. A iniciativa da ocupação, exprime o desejo da comunidade de incorporação do terreno à vida de Mãe Luiza. Naturalmente que o atual proprietário deve ser indenizado.
Sonho com um futuro em que ocupantes e não ocupantes, moradores de Mãe Luiza ou de outros bairros da cidade possam se encontrar no parque e celebrar aquela bela vista sobre o mar. Sonho também que a aspiração dos ocupantes de ter um teto possa ser realizada, em nome da dignidade humana de cada um.
A comunidade deve portanto, manter-se unida. No desejo do respeito à dignidade das famílias que ocupam o terreno e no desejo do respeito à materialização do bem comum no parque que beneficiará a todos, inclusive aos ocupantes de hoje. E no desejo de que todos tenham um teto para morar.

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